domingo, 20 de janeiro de 2013

Vinha centenaria

Continuando a desvendar os projectos que tenho para 2013, vou neste post focar-me num dos principais e em que deposito grandes expectativas.

Quinta-feira volto a terra santa, por uns dias, com dois objectivos :
- podar uma vinha velha que aluguei a partir deste ano
- participar no proximo sabado no evento #dãowinelovermeeting.

Depois, no Domingo voltarei a realidade parisiense.

Sera a primeira vez que podo esta vinha.
Trata-se de uma vinha muito antiga, com mais de 100 anos.


O dono é um senhor com 90 anos que a erdou do sogro quando era novo. Segundo diz ele, ja naquela altura a vinha era velha, tendo a volta de 50/60 anos naquela altura.
E por isso um caso raro, um testemunho de tempos muito antigos, uma amostra do Dão do tempo da criação da denominação de origem, ha cem anos atras.


Conheci o dono vai para 3 anos, a vinha é a menina dos olhos dele e andava preocupado com o que aconteria quando ja não teria forças para a cultivar. Trabalho muito nela. Chegou a escavar a luz da lua.


Desde o inicio lhe disse "não se preocupe! Se você confiar em mim, a vinha não morrera."
Ficou desde essa altura combinado que quando ele ja não puder, começarei eu a tratar dela, via um contrato de arrendamento.

Em setembro quando voltei para vindimar a colheita de 2012, fui la ter com o senhor e chegamos a conclusão que esse momento tinha chegado. Sera por isso agora a primeira vez que vou começar a podar esta vinha. Vou começar a conhecer esta magnifica vinha intimamente.


A vinha encontra-se numa encosta virada para a Serra de Estrela, alias esta mesmo na ultima encosta frente a Serra.

A vinha é pequena, tem a volta de 2000 m². Por isso a produção devera ser confidential, talvez a volta de 1500 garrafas ou algo do genero.


O solo é obviamente de origem granitica e muito pobre.


Mal la nasce uma erva.
Fica uma pessoa a pensar como as vinhas se conseguiram desenvolver e atingir tal longevidade num ambiente tão hostil... São mesmo plantas a parte!


As castas vou aprender a conhecê-las. Neste momento é o que menos me interessa.
O principal neste caso, é o local e a idade das cêpas, sera um autêntico vinho de terroir, que expressa um local e uma altura no tempo.

Sei no entanto que se trata de uma vinha com mistura de castas tintas e brancas, como costuma ser nas vinhas antigas da região. Sei tambem que nas tintas se encontra Jaen.
Agora ao podar, pelas varas talvez consigamos com o meu sogro e o Ti Zé Rebelo reconhecer algumas castas pelas varas.



O vinho tem sido feito pelo dono, sem grandes condições, sempre em lagar, com o engaço e com as uvas tintas misturadas com as brancas. Cada vez que provo o vinho dele, revela-se espectacular!
Mesmo em copo simples, sobressaia o granito, a mineralidade, por detras de fruta vermelha fresca e de um conjunto de flores. Um vinho fresco e elegante, que traduz no copo aquilo que era o Dão de ha cem anos!
Um vinho que nos faz viagar no tempo.



Cabe-me agora a responsabilidade de não estragar.
Ainda não sei se farei o tinto a parte do branco, ou se continuarei  misturar tudo. Alias esta duvida provavelmente so sera defeita a ultima da hora, quando formos vindimar. Mas a ideia de misturar tudo atrai-me, pois o vinho é tão bom!

Ainda me recordo das palavras de um enologo duriense quando o levei a ver esta vinha : "Antonio, esta é provavelmente a melhor vinha do Dão". A responsabilidade é por isso grande, mas não assusta pois conto com a ajuda da mãe natureza, com o potencial da vinha e com o nosso empenho para levar a boca dos enofilos este pedaço de Historia do vinho português.

5 comentários:

  1. Vinha Muito bela, obrigado por me fazer viajar por uma região onde vivi 4 bons anos. Continuação de bom trabalho. Se for possível coloque mais informação no seu blogue. Cumprimentos. IL

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  2. Boa tarde Antonio,
    Mais uma vez os meus parabéns, desta vez por mais um "salvamento" de ultima hora.É cada vez mais importante que gente nova se interesse por o património já existente.Não percebo como existem pessoas que abraçam esta paixão a de fazer vinho,com novos encepamentos de castas que nada tem a haver com a região,sabendo também que tem de esperar consideravelmente que passem alguns anos para que a vinha comece a produzir com a mínima qualidade,e não aproveitem estes tesouros que são as vinhas antigas,que a maior parte das vezes, aguardam apenas que apareça alguém que lhes dê continuidade.
    Abraço
    Mário

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  3. Obrigado Mario.
    Este blog tambem serve para isso, para abrir consciências.
    Abraço
    Antonio

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  4. sensacional!
    belas fotos; fotoreportagem!!!

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