segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Episodio 3 : pesquisa por terras do Dão


Agosto foi tambem um mês em que corri a zona a ver as vinhas, a procura dos terroirs.

Estamos ali no sopé da Serra da Estrela. Fiquei a conhecer bem melhor, em termos de vinhas, aquela zona ente a Serra e Vila Nova de Tazém. Procurei perceber os diferentes tipos de solos, as exposições, as encostas, a idade das vinhas e as castas, as altitudes, as diferenças nos tempos de maturações...

Adorei fazer isso, é do que mais gostei de fazer. 

Corri muito caminho velho, peguei muita terra nas mãos, aprendi a reconhecer algumas castas. As vezes ficava ali sozinho a olhar para as vinhas velhas imaginando como era antigamente, imaginando como os meus avos viveram.

Depois deste caminho velho chega-se a "Molhada", uma vinha de 80 anos que vinifiquei em 2010

Percebi que certos sitios ja eram conhecidos, a muito tempo, pelas pessoas locais como sitios de vinha. Falei com varios idosos, eles sabiam isso tudo, viveram-no. Passei horas e horas a conversar com eles. Adorava isso e senti que eles tambem ficavam contentes de contar isso e de ver um “jovem” interessar-se por isso.

Uma dessas pessoas era o Ti João "Galracho", gosto muito de conversar com ele. Antigamente, o Ti João tinha bois e na altura das vindimas não lhes faltavam trabalho, os donos das quintas contratavam-no para levar a carga a adega cooperativa. Como ele conta : “muita tina os meus bois levaram até a adega de Vila Nova”. Sente-se saudade nas palavras deste homem.

Ti João na sua vinha

Ti Zé "Rebelo" e a sua gente
Outro "velhote" com quem passava algumas tardes, era o Ti Zé "Rebelo", que “trata por tu” cada casta e cada cêpa da sua vinha. Bastardo, Tinta de Mina, Jaen ou outras conhece-as bem. 

"E a empar, não ha pai para ele!"

Depois de podar, enquanto eu, pobre citadino empo uma vara cheio de medo de a partir, ele empa quatro ou cinco, com uma delicadeza e sabedoria que so a experiência de uma vida traz. Como dizem na aldeia, “o Ti Zé Rebelo, a podar é um artista!”


Com estas conversas e baladas pelas terras, entendi que muito ja tinha desaparecido. A escala de produção hoje em dia na região ja nada tem a ver com o que foi no passado. O vinho deu ali a viver a muita gente. 

A quasi falência da adega coop. de Vila Nova de Tazém, ha uns anos atras, acabou com tudo ou quase. 

Antiga adega coop. de VN de Tazem

O vinho do Dão não vende e as uvas ou não são pagas ou são-no anos depois e a preço de chuva... 

Claro que isso levou muito pequeno lavrador a abandonar a vinha, mantendo apenas pequenas parcelas para consumo de casa.








Hoje esta a ficar praticamente tudo ao abandono. Encontram-se cada vez mais terrenos que mais parcem cemiterios de vinhas.
A biodiversidade, o nosso patrimonio de castas autoctones e de clones, a originalidade do nosso vinho, vão certamente perder muito com isto. Que digo? Ja perderam...
But who cares?


A "vinha da Laje" deu, em tempo, a alguns o melhor vinho que ja beberam...

... hoje esta vinha ja não passa de lembrança...

Outro exemplo, a vinha "do Silvino", neste caso temos uma cêpa moribunda, depois de ja não ser podada ha 3 anos.

Mais outra vinha morta, exemplos não faltam...

 Encontrei muita parcela interessantissima, escutei o que me diziam os antigos, eles sabem onde o vinho sempre foi melhor, onde sempre teve fama, onde o solo “rosso” sempre deu para vinho, e fui la ver. 

Fiquei com a ideia de que exista ali muito sitio com potencial. Fiz 5 vinhos diferentes mas fiquei com vontade de testar muitas outras parcelas. Conheço pelo menos mais três ou quatro vinhas que gostaria de experimentar.

Estou em particular a lembrar-me de uma vinha centenar situada numa encosta expectacular, cada vez que provo o vinho desse senhor, apesar dos defeitos de vinificação e de conservação, acho espectacular.

Ha tambem uma pequena vinha com quarenta e tal anos, so de Jaen, num alto com uma exposição mais suave que gosta de experimentar. Naquele sitio, a maturação do Jaen é mais longa, por acredito que pode dar resultado.

Vinha velha de Jaen, num alto com exposição solar suave


 Ainda não as pude experimentar pelas limitações que tenho, porque hoje em dia não tenho nem local, nem condições para o fazer. Até tive de recusar propostas de pessoas que vieram oferecer as suas uvas para vender, com pena, pois penso que havia ali coisas interessantes.

Espero um dia podê-lo fazer, mas nada é mais incerto...

2 comentários:

  1. António
    Gosto de ler os teus relatos, sente-se paixão em cada palavra.
    Espero que este teu projecto tenha o sucesso que desejas e consigas ampliar as tuas ambições...
    Entretanto cultivo a curiosidade de voltar a provar os teus vinhos.
    Abraço
    António Jorge Neves

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  2. Obrigado To-Jo!
    E encorajador ler o vosso feed-back.
    Em relação aos vinhos estou a tentar seguir em frente, mas os obstaculos são muitos.
    Abraço

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